Aprendo a não fazer nada. Preciso mudar. Cortar o cabelo bem curto. Viajar sem destino. Ficar louca e escrever. Escolhi o silêncio e (tentar) fugir da internet. Era a solução mais sensata. O tempo passa mais devagar. Os minutos já não são engolidos pelo ecrã do meu computador e do meu telemóvel. Vou para os cafés, procuro a biblioteca. A minha casa é uma ilha. Uma ilha deserta. Sinto-me sozinha e tenho medo da minha solidão. Mas durmo mais. Quero menos o tudo, agora, já. Sinto-me mais livre também, como se tivesse cortado os fios que me prendiam aos outros e ao mundo. Encontro caminhos esquecidos para fazer o que antes demorava segundos. Percebo a minha sensibilidade. Como o nada me transforma. Mas por dentro há o mesmo calvário. Não o vejo mas sei as quedas interiores. Os meus gritos param antes de passar a fronteira dos lábios. Mas oiço-os. Quero ouvi-los. Não quero o inútil, apenas o que faz sentido. Quero ter tempo e poder oferecê-lo.
terça-feira, 27 de março de 2018
quinta-feira, 22 de março de 2018
quarta-feira, 21 de março de 2018
Há o vento que te leva.
É como se pequenas partes de ti voassem à volta do teu corpo sem as conseguires juntar. É um bailado antigo, dias que já não se contam. Já nem sabes quando começou. Estás, sem saber onde, ausente da tua própria vida e com medo de esquecer o teu nome, de acordar uma manhã com amnésia ou louca. Murmuras o teu nome para afastar o esquecimento. E então sentas-te nas bordas da tua vida como se fosse um abismo. No meio dessa ausência o teu corpo balança e restabelece o equilíbrio. O teu corpo existe. Essa é a tua única certeza. É como a corda de um arco. Os músculos tensos e o corpo pronto para a luta.
E é nesse momento que sabes.
Sabes que esses pedaços de ti são apenas pequenas peças de um único puzzle.
terça-feira, 20 de março de 2018
A noite e o frio que devora.
Caminhar como um viajante sem bagagem. procurar o calor, aqui ou ali.
Perder o fôlego e espreitar a luz.
A estrada pode ser longa quando nos perdemos entre as horas educadas e as horas selvagens.
Procuramos a linha paralela como os corpos que dançam e as vidas cúmplices.
Procuramos a linha paralela como os corpos que dançam e as vidas cúmplices.
Há nos olhos uma luz, como a emoção e a vida entre as costelas. Correr. Rir.
E então o silêncio quente e húmido da felicidade.
E então o silêncio quente e húmido da felicidade.
E a promessa de não dizer nada e oferecer tudo.
quinta-feira, 15 de março de 2018
Quinta-feira fria. E o sol tímido. Os raios espreitam na madrugada do dia, por trás das cortinas, antes que chegue o barulho do mundo. A luz branca inunda tudo e brilha nas poças e nos passeios.
Sento-me junto à janela fria. Escondo as minhas mãos adormecidas nos bolsos do pijama, os olhos perdidos no espetáculo da rua. Estar sem estar, autorizar-se alguns segundos de ausência e tocar da ponta dos dedos o abismo de não estar para ninguém.
quarta-feira, 14 de março de 2018
terça-feira, 13 de março de 2018
Os seus cabelos tinham o cheiro exacto do meu quarto.
Nunca nada dele tinha ficado com o cheiro exato do meu quarto.
Fiquei em silêncio. Guardei as pálpebras-portas, pesadas e fechadas.
Pensei nos pés que nunca pisaram este território onde sei que sou livre.
Este lugar onde ninguém se preocupa comigo.
Pensei nos pés que nunca pisaram este território onde sei que sou livre.
Este lugar onde ninguém se preocupa comigo.
E voltei a lembrar que os seus cabelos tiveram apenas uma vez o cheiro exacto do meu quarto.
E fiquei satisfeita em poder adormecer e refugiar-me dentro, como faço sempre que existe matéria.
Porque a matéria ocupa espaço.
E o vazio fica mais cheio.
E fiquei satisfeita em poder adormecer e refugiar-me dentro, como faço sempre que existe matéria.
Porque a matéria ocupa espaço.
E o vazio fica mais cheio.
quinta-feira, 8 de março de 2018
Há balanços que evito fazer. Portas que devem ficar fechadas.
Deixas-me cair por terra sem hesitar.
Há frio e fraqueza. Há cansaço.
O coração pede tréguas e a boca guarda o último beijo.
Já não preciso de nada. Não era isso que querias?
Cuidado.
O amor é um pequeno animal desprevenido
Uma teia que se desfia pouco a pouco.
Guardo silêncio para que possam ouvi-lo desfazer-se.
Ruy Cinatti
terça-feira, 6 de março de 2018
A loja está vazia e experimento uma saia. É transparente, dizem-me. O problema é meu, não?
Não me apetece ser razoável. Hoje não.
Deixem-me ser louca.
Fico suspensa nas mãos estendidas e escorrego nos dias como nas páginas de um livro.
Caminho com o nariz no vento sem olhar para o abismo. Tenho a minha saia para amparar a queda.
Caminho com o nariz no vento sem olhar para o abismo. Tenho a minha saia para amparar a queda.
sábado, 3 de março de 2018
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