quinta-feira, 26 de julho de 2018


Deus das Pequenas Coisas.
Outono e primavera.
O sorriso tímido e os sonhos coloridos.
Um baloiço cheio de esperança e desejos junto ao tornozelo.
O cheiro da chuva e andar descalça.
Há nódoas negras no coração de tanto amar.
Melodia suave, rascunho de mulher, migalha de criança.


quarta-feira, 25 de julho de 2018


Fico-me por aqui, presa entre paredes gastas. 
O que daria por um segundo a mais. 
Uma hora num espaço que pudesse ser nosso. 
Intimidade e cumplicidade. 
Um abraço enquanto leio um livro, um beijo na testa.
Serás sempre o frio que incomoda no estômago. 
Eu nunca serei mais do que aquilo que nunca fui.

terça-feira, 24 de julho de 2018



As águias não deviam ser aves
mas corações aduncos e com asas;

se olhares à flor dos campos e das casas
sentes o peito maior do que a amplidão:

se alguma coisa nasceu para voar
foi o teu coração.


Carlos de Oliveira

sexta-feira, 20 de julho de 2018


Não sei onde procurar a felicidade. Já fui feliz. Muito. Mas já não sinto nada. Projeto num futuro incerto os sonhos e os sorrisos. Tenho tanto para dar. Tenho tanto para fazer. Mas falta-me a coragem para fugir e procurar. Fico quieta, sem conseguir colocar um pé à frente do outro. Fico quieta à espera do abraço que nunca chega.

quarta-feira, 18 de julho de 2018


Adrien Brody

Entras em casa e fechas a porta. O silêncio é ensurdecedor apesar do miar do gato que te dá as boas vindas. Despes a roupa e vestes algo mais confortável. Abres a porta do frigorífico e comes qualquer coisa rápido. A vontade de cozinhar é zero. Ligas a televisão ao mesmo tempo que dás uma vista de olhos nas redes sociais. Nada de novo. Sentas-te na cadeira que está na varanda embrulhada numa manta em pleno mês de julho e bebes um chá de camomila. Tentas continuar a leitura do livro que compraste nas férias antes de passar a noite em claro na cama grande demais para uma pessoa só e quando o o dia nasce secas as lágrimas e levantas-te para enfrentar mais um dia. A verdade é que todos os dias tudo acaba e tudo re(começa).

terça-feira, 17 de julho de 2018


Podia ter acontecido
Tinha que acontecer.
Aconteceu antes. Mais tarde. Mais perto. Mais longe.
Aconteceu mas não contigo.
Salvaste-me porque foste o primeiro.
Salvaste-te porque eras o último.
Porque só. Porque pessoas. Porque à esquerda, À direita.
Porque chuva caía. Ou a sombra.
Porque fazia um tempo soalheiro.
Por sorte havia um bosque.
Por sorte não havia árvores.
Por sorte um gancho, carris, a viga, os freios,
um vão, a curva, um milímetro, segundos.
Por sorte a navalha flutuava no rio.
Efeito, e contudo, e porque, e apesar de.
Mas que seria se a mão, a perna,
por um passo, a um cabelo
da coincidência havida.
Sempre chegaste? Directo do momento mal transposto?
Tinha a rede uma abertura e tu passaste?
Não sei ficar pasmada nem calar-me a isso.
Escuta:
como o teu coração me bate rápido.

Wislawa Symborska
´

Uma manhã ultrapassada
O cheiro do rio
E todo o tempo cosido junto

Pedaços de um sonho que volta
E do outro lado a brisa que sopra
Para levar os dias embora

E ainda os mesmos turbilhões
Que nos empurram para outro lado
O tempo é uma corrente 

Entre as horas que magoam
E as outras que aconchegam
Querer reparar o inquebrável
Como se a vida não fosse mais do que isso

segunda-feira, 16 de julho de 2018


O meu tremor é do mundo
E o meu medo é do outro.
Sem distinção.
Uma outra noite. Um outro dia.
Que puxam e empurram.
Porque há a beleza e o insustentável.

Tudo junto. Dentro. Indissociáveis.