Os meus pensamentos são uma história ininterrupta. 

Conto, explico, justifico-me. 

Tento que se compreenda o incompreensível. 

E no fim, não chego a lado nenhum.

No fundo, somos umas crianças perdidas. E só a noite sabe de nós.

O dia revela tantos Minotauros que até os fios da Ariana parecem teias de aranhas.

E no final, os labirintos são casa. 

E os monstros, intimidade.

 

 

Making love with a woman and sleeping with a woman are two separate passions, not merely different but opposite. Love does not make itself felt in the desire for copulation (a desire that extends to an infinite number of women) but in the desire for shared sleep (a desire limited to one woman).

Milan Kundera

Se pudesse, estarias aqui comigo.

 As horas são sempre poucas.

Já me fazes falta.

O teu silêncio, depois das horas quentes, faz-me mal. Sinto ainda a tua pele e o teu sabor. A tua ausência é como uma noite infinita na minha vida, como a escuridão que engole a luz.  Vejo o meu corpo e tento dar-lhe vida mas a carne tem um sabor a miséria. Quando o teu silêncio é rei, a minha cabeça imagina todos os cenários.

Eu sou vício, ela é casa.

Eu sou efémera, ela é para sempre.

Não há igualdade nesta equação. 

Gosto de escrever, e este  foi sempre o meu lugar seguro. Aqui ninguém me conhece, o que ajuda.

Perdi o chão várias vezes mas sempre com vontade de seguir os meus desejos. Aprendi a tomar conta de mim e a levantar-me as vezes que fossem necessárias.  Mas é cansativo. O preço de ser quem se é, é grande. Aceito o que me magoa em nome de uma felicidade efémera. Mas estou cansada e vim aqui porque precisava gritar esse cansaço e não ouvir julgamentos. Dizer que preciso, às vezes, que alguém cuide de mim. Estou cansada mas o cansaço é da alma.

O cansaço é de estar sempre firme e forte, o cansaço é de aguentar sem chorar quando preciso, o cansaço é de muitas vezes não conseguir transformar a solidão em algo mais leve.

 Não sei qual é a solução mas no fundo gostava que vissem que eu também sou um ser humano, daqueles românticos, com muitos sentimentos. Eu não quero ser forte. Quero ser amada e aceita pelo que sou, o melhor e o pior. Quero que tomem conta de mim para poder descansar.

E eu queria escrever mais, mas as palavras acabaram.

Basta um fragmento de dúvida para perder o sono.

Nos dias que são silêncio fico suspensa.

Presa num limbo em que estás sem estar. Em que sou sem ser.

Fico permanentemente a espera.

Presa num círculo vicioso que se repete a cada dia que passa.

Tenho em mim palavras inacabadas que fazem aumentar o eco do meu coração. 

E a saudade do que nunca vou ter aumenta nas horas vazias de ti.

*I oberthink, I overlove, I overfeel.

 

A alegria e os sorrisos.

A tristeza e as lágrimas.

Como o vento no mar e o amor que se inventa nas margens dos rios.

E a linha do sol, no campo, e o fogo do silêncio no céu da madrugada.

Há também o horror e a beleza, e a loucura, claro.

Tudo dentro de uma mulher em estado sólido.

Ingénua é a palavra certa.

Certos acontecimentos levam- me a olhar para mim de um ângulo diferente.

Haverá uma diferença entre ser ingénua ou usar do meu tempo para elaborar estratégias de defesa.

A resposta não vem e já não a procuro.

Hoje voltei às listas. 

A coluna dos pontos negativos é maior.

De noite esqueço. Questiono os meus dias, encomendo um vestido e como um iogurte.

Durante o dia vou colher umas flores perdidas num jardim. 

Olho para o ramo silencioso. Esqueço para lembrar. Demais.

Fecho os olhos para encontrar o perfume perdido no meio da roupa. 

Sinto falta de carinho. 

A mesma margem e o suor debaixo dos olhos.

Na madrugada que desaparece um punhado de pedras.

Esta ideia de baralhar os dias como se baralham cartas. Sem saber para onde ir ou onde se está.

Não estar em lado nenhum. 

Flutuar num mar de rosas, sangue e abstração.

Onde o tempo não sabe por onde passar.

Amo a floresta e o campo.

Uma pela sua profundeza, o outro pela luz.

E a margem. E o suor nos lábios.