sábado, 8 de agosto de 2020



Há uma tranquilidade estranha em casa. Levanto o nariz do livro e oiço o sino da capela. 
Passaram algumas semanas e ainda sinto um vazio quando não estás na minha vida. 
O teu silêncio prolongado deixa-me triste. Ausência involuntária? Cansaço? Preguiça? Distância imposta? 
Talvez seja uma fuga. Mas o comboio há-de partir sem ti. 
Sei que não vais dar notícias. Vais calar-te, como sempre e vou continuar descosida. 
Palavras frágeis. 
A distância que nos separa, distância desprovida da tua presença é para mim como um abismo. 
Sou apenas sombra. Caio. 
É um mau estar que não controlo. 
É uma sensação desagradável pintada de emoções que me fazem mal. 

Desculpa. Vou deixar-me levar pela voz da Alice. 



sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Tentamos esquecer a morte porque é mais confortável.
 É menos assustador. Mas hoje, enterra-se mais uma das minhas pessoas. 
Têm sido demasiadas ao longo dos anos. 
Todas levadas pelo maldito caranguejo.

Há um início e um fim.
A diferença, entre quem está doente e quem não está, encontra-se no conhecimento de que vai morrer.

E é por isso que não gosto da palavra fim. Não gosto de ausências. 
Assusta-me, irrita.me, dá-me raiva.
Talvez amanhã já tenha esquecido tudo e volte a olhar para as árvores e para o azul do céu.
Talvez volte a preocupar-me com  as nódoas negras nos joelhos por ter corrido demasiado depressa e caído demasiadas vezes. 
Mas não é grave. É mais um ciclo que termina.
É apenas a vida. 



quarta-feira, 5 de agosto de 2020



Quero o amor suave, as palavras doces, os sorrisos de madrugada, as horas azuis junto ao mar. 
Quero as mensagens sorrisos, a bondade, o respeito e o consentimento sussurrado.

E quero o fogo, a paixão que devora, as entranhas quentes da urgência, o sorriso nos lábios e os perfumes na pele, os corpos impacientes. 
Quero os gritos, o gozo barulhento, e o balanço dos rins.
Quero tudo e a absoluta liberdade.
Quero a poesia do dia, o sol quente e as horas cegas, sem janela para o mundo.
Quero tanto.
Mas quem tudo quer, tudo perde.