sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Tentamos esquecer a morte porque é mais confortável.
 É menos assustador. Mas hoje, enterra-se mais uma das minhas pessoas. 
Têm sido demasiadas ao longo dos anos. 
Todas levadas pelo maldito caranguejo.

Há um início e um fim.
A diferença, entre quem está doente e quem não está, encontra-se no conhecimento de que vai morrer.

E é por isso que não gosto da palavra fim. Não gosto de ausências. 
Assusta-me, irrita.me, dá-me raiva.
Talvez amanhã já tenha esquecido tudo e volte a olhar para as árvores e para o azul do céu.
Talvez volte a preocupar-me com  as nódoas negras nos joelhos por ter corrido demasiado depressa e caído demasiadas vezes. 
Mas não é grave. É mais um ciclo que termina.
É apenas a vida. 



quarta-feira, 5 de agosto de 2020



Quero o amor suave, as palavras doces, os sorrisos de madrugada, as horas azuis junto ao mar. 
Quero as mensagens sorrisos, a bondade, o respeito e o consentimento sussurrado.

E quero o fogo, a paixão que devora, as entranhas quentes da urgência, o sorriso nos lábios e os perfumes na pele, os corpos impacientes. 
Quero os gritos, o gozo barulhento, e o balanço dos rins.
Quero tudo e a absoluta liberdade.
Quero a poesia do dia, o sol quente e as horas cegas, sem janela para o mundo.
Quero tanto.
Mas quem tudo quer, tudo perde.


quinta-feira, 23 de julho de 2020



A caminho de casa oiço esta música e pela primeira vez "vejo" a letra. 
E é um murro no estômago ou a carapuça perfeita.
Porque no fim, não sobra nada de mim.

terça-feira, 21 de julho de 2020




Um corpo indiferente
O abismo colado à pele

A veia imóvel absorve o caos

Nos ecos da terra escura
a água procura a esperança

Sempre a mesma lama que avança

E o sonho que teima em não morrer

E o caminho para o fim
Como um recomeço