sábado, 30 de julho de 2022

quarta-feira, 27 de julho de 2022



Fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre

sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.

eu sei exatamente o que é o amor, o amor é saber

que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer,

o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte

de nós que não é nossa, o amor é sermos fracos.

o amor é ter medo e querer morrer.

José Luís Peixoto 

terça-feira, 26 de julho de 2022

Sou um animal de hábitos.

Mas o céu e os ventos mudam.

O meu pai sabia-o.

É o teu coração, dizia ele.

E o perfume da serra.


segunda-feira, 25 de julho de 2022


 Entre os povos da Guatemala há uma lenda que prevalece e se espalha pelo mundo. Quando se tem um problema partilha-se com a boneca da preocupação, antes de ir dormir. Depois coloca-se a boneca debaixo da almofada. Enquanto se dorme ela levará embora os problemas.

No início deste ano ofereceram-me esta boneca. Aliviou o peso das minhas muitas noites passadas acordada e com medo.

sábado, 23 de julho de 2022

quarta-feira, 20 de julho de 2022




Esperar pela onda.

Tentar que o corpo volte a sentir.

E voltar para casa.

Descansar e ganhar forças.

Mais um dia que acaba.



terça-feira, 19 de julho de 2022



Nunca quis tudo.

Nunca pediu tudo.

Era feliz com o pouco que tinha.

Mas o pouco transformou-se em nada.

Não se insiste quando não querem falar connosco.



domingo, 17 de julho de 2022

O silêncio dos dias. Pesado mas expectável. 

Há um corpo cansado e sem vida. Desligado do verbo sentir.

Perceber que o esforço nunca teve mais do que um sentido.

Navegando num mar sem tréguas, cheio de memórias turvas do que um dia já foi.

Analisar onde e quem errou. 

E impor limites a nós próprios para evitar mais sofrimento. 





 

quinta-feira, 14 de julho de 2022




Há um sentido escondido em tudo o que escrevo.

O que não é dito. O que se esconde. 

O que fica por dizer.

Talvez um dia alguém consiga ler-me por inteira.

Sou feita de abismos e tempestades.

Nunca encontrei meias medidas.

E assim ando, descosida até um dia me cansar.

quarta-feira, 13 de julho de 2022




as aparências enganam
aos que odeiam e aos que amam
porque o amor e o ódio se irmanam
na fogueira das paixões
os corações pegam fogo
e depois não há nada que os apague
se a combustão os persegue
as labaredas e as brasas são o alimento
o veneno e o pão
o vinho seco
a recordação


as aparências enganam
aos que odeiam e aos que amam
porque o amor e o ódio se irmanam
na geleira das paixões
os corações viram gelo
e depois não há nada que os degele
se a neve cobrindo a pele
vai esfriando por dentro o ser
não há mais tempo de se aquecer
não há mais tempo de se esquentar
não há mais nada pra se fazer
senão chorar sob o cobertor

as aparências enganam
aos que gelam e aos que inflamam
porque o fogo e o gelo se irmanam
no outono das paixões
os corações cortam lenha
e depois se preparam para outro inverno
mas o verão que os unira
ainda vive e transpira
ali nos corpos junto à lareira
na reticente primavera
no insistente perfume
de alguma coisa chamada
amor

Elis Regina 

domingo, 10 de julho de 2022

Comunicar 

verbo transitivo

1. dar a conhecer; divulgar; anunciar; informar

2. pôr-se em comunicação ou em relação com; relacionar-se; exprimir-se; falar

3. transmitir algo; passar

4. (coisas) ter comunicação para; dar para; conduzir


 

terça-feira, 5 de julho de 2022




Não há limite que não seja por ele suportado. 
Suporta todo o cansaço. 
Traições, fadiga, falhanços. 
Aconteça o que acontecer tens um corpo que pesa; 
e um chão, mudo, imóvel, que não desaparece.

Gonçalo M. Tavares

sábado, 2 de julho de 2022





O tempo infinito e o rascunho de uma vida.
Depois da descida, a queda. O sorriso desaparece, as dúvidas e a repreensão.
Uma montanha intransponível dentro de mim. Despi tantas vezes o orgulho que não sobra mais nada.