Sandra Pozun
A casa cheira a madeira húmida como a lembrança do chão velho e abandonado.
No fundo das escadas uma cabeça de leão.
Uma sensação familiar, trinta anos depois quando desço os degraus.
As pedras velhas afastam o calor.
Os lençóis de algodão frescos na pele.
Tenho dez anos e depois quarenta.
O prazer mudou desde as primeiras emoções.
A estrada e os caminhos atravessados, as evasões.
Sentes o sal junto ao pescoço e uma madeixa de cabelo húmido
que dois dedos afastam da tua cara.
Ao fundo o céu cinzento, o corpo amado e a fome que nasce.
Há que sentir a vida e provar a pele.