Estava atrasado e talvez o tivesse feito de propósito. Estes seis meses passados no apartamento vazio da presença dela tinham sido pesados, cheios de uma tristeza diluída. E a culpa também.
Ao longo destes seis meses ela não quis receber as minhas visitas. Até depois dos médicos dizerem que era possível. Ela não estava pronta para que a visse no meio do verde pastel das paredes do hospital.
Talvez quisesse apanhar as peças de um puzzle do qual me excluiu com medo de nos destruir. Não quero impedir-te de viver a tua vida, disse ela.
Cheguei junto ao café e vi-a através da janela transparente. O olhar perdido.
Ela sempre foi bonita mas agora tinha uma beleza suava e doce. Percebe-se a sombra das feridas, as olheiras e a pele pálida. No entanto tem os lábios vermelhos e os olhos brilhantes das horas difíceis. Saberei amá-la como ela precisa? Saberei perdoar-lhe? Entro no café e oiço na sua voz o meu nome. E o corpo frágil nos meus braços. Deixo-me ficar naquele abraço que me traz à memória o caminho para a luz.
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