terça-feira, 23 de janeiro de 2018

..Durante meses não lhe respondi. Porquê? Porque não podia escrever senão à Ellen, à Ellen: toda a outra correspondência me era intolerável. (Escrever a outros quando me podia dirigir a ela?!) E o resultado? Ei-lo: não me matei em conferências e artigos para magazines. Qual o resultado pecuniário, esse recuso a ponderá-lo... Mas, agora, que acabei a peça (em borrão), tentarei ganhar algum dinheiro suplementar - não que me apeteça, mas fui sempre tão inábil para o forjar que ninguém me tira a ideia de que estou à beira da falência...
Mas em verdade é só a Ellen, a ellen, a Ellen, a felicidade, a tranquilidade, a paz, o refúgio, a consolação de amar a querida Ellen - vá, acrescente: 'e de ser amado por ela' (uma mentira custa tão pouco...) - o meu único tesouro...
...Tornei a sentar-me para lhe escrever. As chamas esmorecem na lareira; este frio cortante é-me propício, suponho, já que por compleição sou um homem do Norte, mas espero que a Ellen esteja quentinha como uma ilha ao sol, amadornada no Mediterrâneo. Agora que terminei a peça só me resta beijar, enfim, a minha Ellen, e morrer.

Carta de amor de Bernard Shaw a Ellen Terry

12 comentários:

  1. ...anunciação de um amor que foi, mas que ainda é.

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  2. O Amor nunca deixará de o ser. Há amores assim, que duram uma vida inteira
    :)

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    1. Escrito por quem recusou receber o prémio Nobel da Literatura :)

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  4. pois, o amor é lindo mas nós temos que comer...

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    1. Se o amor alimentasse o suficiente a minha conta estava bem mais recheada :)

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  5. E certamente ela o terá inspirado em muitos dos seus trabalhos... quero crer...
    Belíssima partilha! Não conhecia o texto!
    Beijinho
    Ana

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