quinta-feira, 9 de setembro de 2021

“Amor vem de amor. Vem de longe, vem no escuro, brota que nem mato que dispensa cuidado e cresce com a mais remota chuva. Vem de dentro e fundo e com urgência. Amor vem de amor. Que não cabe, mas assim mesmo a gente guarda. A gente empurra, dobra, faz força, deixa amassado num canto, no peito, no escuro, dentro, ou larga pegando sereno. Amor vem de amor. Vem do pedaço mais feio, do mais sem palavra, do triste, vem de mãos estendidas. É tecido desfeito pelo tempo, amarelecido pelo tempo, pelo cheiro da gaveta fechada, pelo riscado do sol na madeira. Amor vem de amor. Vem de coisa que arrebata, vira chão, terra, cisco, resto, rastro, coisa para sempre varrida. É delicadeza viva forte violenta. Que faz doer, partir, deixar caído. Amor vem de amor. E dói bonito.”

Guimarães Rosa 

domingo, 5 de setembro de 2021



 Acordei com uma sensação estranha, com pensamentos contraditórios.

 Ultimamente tenho mantido os meus dias ocupados com tudo o que possa inventar. 

Obrigo me a não parar para pensar.

Cometi muitos erros ao longo da minha vida e ainda tenho dificuldades em perdoar-me. 

Mas sou feita de cada escolha que tomei, as boas e as más. 

Não há pior sentimento do que o arrependimento. 

Faria coisas de forma diferente ?

 Sim, sem dúvida mas não mudava nada, mesmo que pudesse.

O caminho é incerto mas as minhas certezas, essas, são cada vez mais fortes. 


sábado, 4 de setembro de 2021

Aqui não acontece nada,
salvo o tempo,
irrepetível
música que ressoa,
extinta já,
num coração oco, abandonado,
que alguém toma um momento,
escuta
e arremessa

Angel Gonzalez 

quarta-feira, 1 de setembro de 2021



Noite. Cozinha. 
O ronronar do frigorífico e dos gatos.
Meia noite e sem sono
O caos fiel. O sonho de uma vida vazia do peso.
A cada instante o tempo que se afasta.
E o vento. E a indiferença.
E a sombra da madrugada no meu café escuro.