Domingo. Tomo o pequeno almoço e o único barulho que oiço é o da minha boca a mastigar o pão. Isso e um dos gatos que está a comer. 

Há sempre um barulho ensurdecedor na minha cabeça mas hoje nada. Vazio. 

Sinto que alguma coisa mudou, só não consigo perceber porquê. 

Eu sei que nunca mais encontrarei nada nem ninguém que inspire uma paixão. Você sabe, não é tarefa fácil amar alguém. É preciso ter uma energia, uma generosidade, uma cegueira. Há até um momento, bem no início, em que é preciso saltar por cima de um precipício: se refletirmos, não o fazemos. Sei que nunca mais saltarei.

Jean Paul Sartre

 Na beira do abismo desenho as margens.

Abraço, desiquilíbrio, limite. 

O espaço diminui. Há o vazio e a neblina. É um padrão. Um hábito. Um vicio.

E claro, o silêncio de uma vida ao contrário.

 Talvez seja algum planeta que esteja retrógrado.  Sinto-me descosida. Perdida no meio do meu caos. 

Tento domar as minhas desilusões, uma de cada vez. 

Podíamos ser tanto. Podíamos ser tudo.

 

 Basta a dúvida e o silêncio para perder o sono.