quarta-feira, 29 de junho de 2022




Emocional.
Sensível.

Pensar sempre no outro.
Chorar por nada e rir com tanta facilidade.

Sentir os cheiros, as almas e a tristeza.
Sem limite.
Já não há raiva.

Falar para não dizer nada porque há sempre tanto a dizer.

Magoada, estragada.
Respeitar o silêncio que diz tanto.

É a tempestade que grita e o arco íris que brilha.

É sentir tudo, voar bem alto e cair depressa.

É chorar e rir ao mesmo tempo.

E nas fragilidades encontrar a força.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

 Se agora batesses à minha porta

e tirasses os óculos

e eu tirasse os meus que são iguais

e depois entrasses na minha boca

sem temer beijos desiguais

e me dissesses: «meu amor,

que aconteceu?», seria uma peça de teatro de sucesso.


Patrizia Cavalli (tradução de João Coles)




sexta-feira, 17 de junho de 2022

Largar o que faz mal e arriscar. 
Desequilibrar a balança.
Nomear as palavras que dizem o possível, as que permitem andar junto ao abismo sem nunca cair.
Palavras escondidas na escuridão para afastar as sombras.
E então gritar tudo o que contei ao vento.



terça-feira, 14 de junho de 2022



Tempo branco, tempo de nenhuma paixão.

Desce ao âmago desta cela. Debruça-te para o interior do meu vazio.

Nenhum rosto, nenhum pensamento, nenhum gesto inútil. Nenhum desejo - porque o desejo precisa de um rosto. E no lugar daquele que partiu acende-se a noite. Pressente-se a morte.

Mas no fundo de mim carregas ao ombro uma chapa de aço, em forma de sol apagado. O teu corpo fundiu no silêncio do meu.

Dormimos na espessura da poeira, e nela suspendemos o tempo. Abandonamos a alma. Esquecêmo-nos.

Nada sentimos, nenhum acto se realiza. Nenhuma alegria ou tristeza. Apenas matéria, matéria deixada à voragem dos escombros e da ferrugem.

Agora podemos tocar, enlear, comprimir ou distender os corpos. Construir formas com eles e deixá-los, assim, numa melancólica eternidade.

Longe do olhar dos outros, respiramos ao mesmo tempo - como uma só engrenagem, única e bela. Resquício de memória que se apaga lentamente, sem que ninguém dê por isso.

Al Berto 

sábado, 11 de junho de 2022

Tentar apanhar as primeiras horas, a sensação do tempo sem limites.
Há o silêncio e a ausência.
Avançar por caminhos desconhecidos, instáveis.
Tentar escrever todos os momentos mágicos,  os que fizeram desequilibrar a balança para o lado da esperança.
Porque até no meio da tempestade, encontra-se sempre a verdade.

domingo, 5 de junho de 2022



No coração que ainda respira há a vontade de pintar a alma.

Há que continuar viva.


 




Cansada de tudo o que oiço. Do que me empurra para baixo. Cansada de quem tem todas as respostas. Cansada do que esperam de mim sem nunca nada ser suficiente. Porque não sou o esperado ou o expectável. Cansada das máscaras que tiram para logo a seguir colocarem outras.

Cansada da pressão que obriga a inventar uma melhor versão de nós ao mesmo tempo que devemos aceitar as fragilidades, ultrapassar os medos, acolher as emoções, saber dizer basta e cuidar de nós sem parecer egoísmo.

E tudo isto ao mesmo tempo que conseguimos gerir com harmonia a nossa vida profissional, familiar e o orçamento mensal. 
E claro, sempre de sorriso no rosto.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

O ar é doce e o céu azul. As crianças brincam na rua enquanto os adultos preparam o jantar.
Há o cheiro a algodão doce e a pipocas. E o perfume das flores
Revejo-me a correr com a minha irmã. Partilhamos o algodão doce. Cor de rosa. Sempre a sorrir. Sempre feliz.
É como se voltasse a sentir o cheiro das flores, no jardim da casa dos meus pais.
É para lá que vou quando preciso de paz
A memória, a infância e as lembranças. A minha identidade.