Os gatos.
A lareira.
Um livro.
Um corpo satisfeito.
Um coração insaciável e perdido.
As folhas dançam no vento que as leva.
Um casal corre, telefone na mão para contar o tempo.
Eu estou quieta. Uma solidão escolhida que pode ser interrompida a qualquer momento porque os miúdos esperam por mim algures, porque os amigos estão do outro lado do telefone ou porque o trabalho impõe prazos.
Quando partilhas uma vida em comum e procuras tempo para ti, o outro ou a outra vêem, muitas vezes, uma rejeição.
Estar sozinha é não dar conta da hora a que se chega a casa, da velocidade a que se anda de carro, das horas que se passam a dormir ou acordada.
Liberdade para não fazer nada, ter os pés na parede, sonhar, masturbar ou sorrir.
Sozinha, posso ouvir o silêncio. O silêncio da casa. O silêncio da liberdade. O silêncio de uma outra vida que se espreita e que nos mata pouco a pouco.