quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018


Como um vazio
Um espaço imenso
Procurar as palavras
Uma sensação
Uma pequena coisa minúscula
Pensar a todos esses dias
E a este 
Inevitavelmente
Pensar aos que partiram
Repetir desculpa
E tentar outra vez
Ficar serena frente à evidência
Sentir o tempo que persegue
As mãos... Estão velhas
Entrar numa livraria
Olhar para os livros
Tantos nomes imóveis
Pensar nas tuas mãos, fortes
Sorrir com as memórias
E inevitavelmente fechar a porta
Seguir a multidão
Essa corrente imensa que avança
O nariz enfiado nos ecrãs
E olhar para ela
Ela que me surpreende
Deitada nas escadas cinzentas
Esquecida pela multidão
Tem um vestido preto
E um olhar bonito
Uma vida antiga que acaba
Sozinha, deitada no frio das escadas
Olho para ela 
Olha para mim
Esboço um sorriso que ela não quer
A multidão aperta
Tentar escrever mais alegria
Afastar o inevitável
E correr
Ligeira
Até amanhã


terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018


Lembrem-me que o mundo não é só ódio

Lembrem-me que o mundo irá encontrar uma forma de saber a paz

Digam-me que a vontade de viver é mais forte que a de destruir

Expliquem-me como construir um amanhã sem medo e sem mortes inocentes

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018



O prazer provocado pela sucção e depois pela degustação. As moléculas escorregam suavemente pelas papilas gustativas. A lenta deglutição abre o caminho do prazer até ao cérebro. O gozo começou. As mensagens químicas criadas correm para a frente sináptica. O ambiente está cheio de eletricidade. O córtex é inundado com miliares de impulsos nervosos. 
O desejo sobre inexoravelmente.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018





Olho para aquele casal. Duas mulheres, jovens. 
As duas são surdas, ou mudas. Tento fazer o inventário dos gestos e das variáveis. Observo como as mãos cortam, viram, indicam, batem e como os dedos tocam piano no ar ou num punho, numa testa ou nariz. Uma conta e a outra concorda. Elas não olham para as mãos mas para a linha do horizonte que une os dois olhares porque não basta olhar. A condição sine qua non deste diálogo é nunca parar de ver. 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018


We passed upon the stair
We spoke of was and when
Although I wasn't there
He said I was his friend
Which came as a surprise
I spoke into his eyes
I thought you died alone
A long long time ago
Oh no, not me
We never lost control
You're face to face
With the man who sold the world
I laughed and shook his hand
And made my way back home
I searched for form and land
For years and years I roamed
I gazed a gazeless stare
We walked a million hills
I must have died alone
A long, long time ago
Who knows?
Not me
I never lost control
You're face to face
With the man who sold the world
Who knows?
Not me
We never lost control
You're face to face
With the man who sold the world

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018


Sento-me e abro uma página em branco. Não sei bem sobre o que escrever mas sei que tenho o corpo em alerta. Porque as palavras e o frio têm em mim o mesmo efeito. A pele fica sensível, quase dorida. Preciso de um abraço. Preciso de reconforto. E é isso que encontro em cada texto. É o meu luxo. Reinventar no escuro da noite os silêncios e as emoções, as fragilidades e os arrepios. Pensar na tua pele na minha, encontrar a palavra certa para dizer a saudade. As palavras são eternas declarações de vida. Invento outros mundos e desenho no abandono das metáforas todo o amor que sinto por ti.



Most of us can’t help but live as though we’ve got two lives to live, one is the mockup, the other the finished version, and then there are all those versions in between. But there’s only one, and before you know it, your heart is worn out, and, as for your body, there comes a point when no one looks at it, much less wants to come near it. Right now there’s sorrow. I don’t envy the pain. But I envy you the pain



Call me by your name (2017, dir. Luca Guadagnino)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


Ser mulher e fugir da luta. Porque viver é uma luta. Ser. Carne viva, pele esfomeada e honrar todos os papéis. Há o vento e o absoluto. Abrir as gaiolas construídas, hesitar entre escrever e desistir. A tentação e a dúvida sempre. Não há uma escolha certa e no entanto é nas horas azuis e nas noites cheias da lua que penso em fugir. Como se fugir fosse fácil. Deixar a borda do rio e construir outra vida, longe. e talvez encontrar um novo sentido. O que tanto nos prende ao chão?

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Quinta-feira

Pelos vistos não sei respirar, o que atrai os maus pensamentos e asfixia os bons. 
Nunca tinha pensado nisso.
Podemos encontrar-nos à beira mar. Para explicares.
E enquanto espero, acumulo as minhas dúvidas. Um mil folhas de incertezas.
O silêncio prolonga-se e penso em ti.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

"Não importava que a história já tivesse começado , porque o kathakali descobriu há muito que o segredo das Grandes Histórias é que elas não tem segredos. As Grandes Histórias são aquelas que você ouviu e quer ouvir de novo.Aquelas em que você pode entrar por qualquer parte e habitar confortavelmente . Elas não enganam você com truques e finais emocionantes. Elas não surpreendem você com o imprevisível . Elas são tão familiares como a casa em que se vive. Ou como o cheiro da pele do amante. Você sabe como elas terminam,mas,mesmo assim, você escuta como se não soubesse.Da mesma forma que apesar de saber que um dia vai morrer, você vive como se não fosse.
Nas Grandes Histórias você sabe quem vive,quem morre,quem encontra o amor, quem não encontra. E, mesmo assim, você quer ouvir de novo."

O Deus das Pequenas Coisas -  Arundhati Roy


Take me out tonight
Where there’s music and there’s people
Who are young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven’t got one anymore

Take me out tonight
Because I want to see people
And I want to see lights
Driving in your car
Oh please don’t drop me home
Because it’s not my home
It’s their home
And I’m welcome no more

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine

Take me out tonight
Take me anywhere
I don’t care, I don’t care, I don’t care
And in the darkened underpass, I thought
“Oh, God, my chance has come at last”
But then a strange fear gripped me
And I just couldn’t ask

Take me out tonight
Oh take me anywhere
I don’t care, I don’t care, I don’t care
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven’t got one, no no no
Oh, I haven’t got one

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine

Oh, there is a light that never goes out
There is a light that never goes out
There is a light that never goes out
There is a light that never goes out

sábado, 10 de fevereiro de 2018


Senti vontade de dançar com a lua. A lua brilhante e luminosa. A lua sorridente, o sonho e o paraíso. Contigo é sempre assim. Caio no abismo e sei a pele quente, o abandono dos sentidos. 
Hoje voltei a ser tua. Há o sabor a tangerina salgada e a liberdade do desejo. E o mergulho na onda azul e na carne vermelha. Desenhamos as linhas da intimidade na pele nua. Percorremos a estrada da vontade na partilha de uma cama, de um céu ou de uma noite. 
Ofereces-me a onda e esqueço a razão quando a minha vontade é ter a tua pele na minha. Esqueço que não és meu. És dela.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018


Há sempre um lugar
Do outro lado da porta
Nas bordas do tempo
Há sempre o silêncio
E a vontade de o rasgar
Mas nada
Nada se pronuncia
Todos os olhares se perdem
Cada um o seu
Podia ser uma dança

Olho para mim
Escureço o olhar
Despenteio o cabelo
Deito-me na cama com a roupa ainda no corpo
E desapareço


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018


Gostava de conseguir meter a chave debaixo da porta, virar a página e apagar tudo sem avisar.
Estou cansada dos jogos de aparência. No entanto continuo a escurecer as páginas em branco à procura dos possíveis. Tenho as palavras que dançam na barriga. A escrita é a minha imensidão. As palavras destinadas a tocar no vazio e o silêncio nunca têm o mesmo brilho. Porque escrever é uma declaração de um eu que existe. Todos fazemos a mesma coisa: defender a nossa humanidade, gritar com mais ou menos barulho que estamos vivos.
Ainda hoje não sei qual é o meu lugar neste universo cheio de espelhos mas a partilha nunca é inocente e alimenta-se de reciprocidade. O Deus das Pequenas Coisas é o meu único espaço de liberdade. Obrigada pela vossa presença aleatória, silenciosa, fiel, recente ou constante.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018


Afogo-me na escuridão. É bonito. O ritmo dos salpicos e a sombra que cola à pele.
As horas são indizíveis e desfaço-me nas metáforas. Gostava de escrever palavras cristalinas, transparentes, como a água que escorre de dentro para fora.

domingo, 4 de fevereiro de 2018


O vento corre nas ruas e despenteia uma rapariga que deve ter passado horas a domar o cabelo rebelde para agradar a quem ama em segredo.
Os carros voam por cima da estrada enquanto a noite chega devagar.
A minha cidade fica azul. O piano nos meus ouvidos ainda dança, as minhas ancas roçam na pressa das pessoas que passam por mim a correr. O jovem e o seu ramo de flores, bonito mas triste. A mãe e os pequenos.
O museu vai fechar as portas e os últimos curiosos invadem os passeios, os olhos carregados das cores da vida junto ao rio de águas negras.
O mundo passa e eu paro. Cheiro as pessoas que se cruzam comigo sem olhar para mim. O ar frio entra-me no corpo. A rua ficou vazia.
Saboreio o vento e sonho acordada. Danço e deixo-me levar pela ligeireza. Provoco-a. Antes de cair. É evidente. Danço antes da queda.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018



Às vezes, durante um milésimo de segundo, tenho esta sensação insolente em que tudo é possível, que podemos mudar a corrente da vida e que cada um de nós é a força que define a forma como vivemos, as regras, as leis e os tabus. 
Inconsciência efémera?