terça-feira, 29 de dezembro de 2020


E assim acaba mais um ano. 
Termina com um pensamento doce para cada pessoa que ofereceu aos meus dias um pouco mais de beleza.
Termino o ano de pé, determinada, grata, emocionada e orgulhosa.

Orgulhosa pelos desafios superados.
Orgulhosa dos encontros e da audácia. 
Nem tudo foi cor de rosa, aliás por trás do espelho há pedaços de vidro à espera de serem apanhados. Sei a raiva obscura e os colapsos silenciosos. 
Mas sei também as amizades, aprender a valorizar-me, gostar de mim. Sei as minhas prioridades e alguns projetos para o próximo ano.

E as pequenas alegrias que ainda quero colecionar e saborear. O silêncio da manhã, os jantares barulhentos e a estrada que quero percorrer. 
Momentos cheios da vida doce, complexa, fascinante, séria e intoxicante. 

sábado, 12 de dezembro de 2020



Talvez um dia escreva uma carta. Uma longa carta, onde tudo será dito. 
O que não se conta a ninguém para não incomodar as horas. 

Mas estou bem, desenho na minha cabeça a gota de água no tempo, as fissuras que escondem a beleza.

Os pássaros cantam cedo de manhã. 
Chove há já vários dias, mas mais logo irei dar a minha caminhada. 
Esse momento é sempre precioso para o meu espírito e para o meu corpo.

Aqui também o mundo gira de uma forma estranha. 

A desconfiança ganha terreno e há cada vez menos sorrisos.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Adoro a hora azul, o último instante antes da noite. 
As ruas ficam vazias, as janelas ficam cobertas da humidade e as cortinas fecham-se.  
Adivinhamos os trabalhos de casa, o barulho das panelas, o último café  ou o álcool que aquece o frio. 
Oiço algumas notas de um piano e de um saxofone. 
Desacelero na ponte de pedra. Gosto do barulho surdo da água. 
E de repente o silêncio da noite.




quinta-feira, 3 de dezembro de 2020



o amor é uma luz 
a correr de noite pelo nevoeiro 

o amor é uma carica de cerveja 
pisada a caminho 
da casa de banho 

o amor é a chave de casa perdida 
quando estás bêbado 

o amor é o que acontece 
uma vez a cada dez anos 

o amor é um gato esmagado 

o amor é o velho ardina 
na esquina 
que já desistiu 

o amor é o que tu pensas que a outra 
pessoa destruiu 

o amor é o que desapareceu 
na época dos vasos de guerra 

o amor é o telefone a tocar 
a mesma voz ou outra voz 
mas nunca a voz 
certa 

o amor é traição 
o amor é a incineração 
de vagabundos num beco 

o amor é ferro 
o amor é a barata 
o amor é a caixa de correio 

o amor é a chuva no telhado 
de um velho hotel 
em Los Angeles 

o amor é o meu pai num caixão 
(o teu pai que te odiava) 

o amor é um cavalo com uma pata 
partida 
a tentar levantar-se 
perante uma assistência 
de 45 000 pessoas 

o amor é o modo como fervemos 
como a lagosta 

o amor é tudo aquilo que dissemos 
que não era 

o amor é a pulga que não consegues 
encontrar 

e o amor é uma melga 
o amor são 50 granadeiros 

o amor é uma arrastadeira 
vazia 

o amor é um banco de bar vazio 

o amor é um filme do desastre de Hindenburg 
a encarquilhar aos pedaços 
um momento que ainda grita 

o amor é Dostoiévski diante 
da roleta 

o amor é o que rasteja 
pelo chão 

o amor é a tua mulher a dançar 
nos braços de um estranho 

o amor é uma velha 
a roubar um pedaço de 
pão 

e o amor é uma palavra 
usada demasiadas vezes e 
demasiado 
cedo. 

charles bukowsky - os cães ladram facas