quarta-feira, 30 de maio de 2018



Um dia igual a tantos outros
E talvez não.
O rio das horas leva-me com ele.
Ia para um lado e escolhi outro.
Um banco. E o vento.

Olho para as pessoas à minha volta
E procuro o silêncio
Mas qual silêncio?
O que fica dentro do barulho?
No fundo de mim?
Talvez o da poesia.
É o mais bonito.

sexta-feira, 25 de maio de 2018



Vivemos para esquecer. E nessa tarefa árdua deixamos de sentir, abraçamos a rotina e o vazio dos dias. A indiferença é o pior inimigo do coração. Agarra-se à pele e invade as veias. Deixamos de acreditar que é possível ser feliz, deixamos de sentir alegria ou tristeza. É um lugar entre dois mundos. É a história de uma mulher que se esqueceu como se faz amor.

quinta-feira, 24 de maio de 2018



Aprisionar os erros
Aceitar melhor as fraquezas
Abafar algumas susceptibilidades...
Pequenas vitórias

Mas de vez em quando a incerteza
Avançar devagar
E saber as possibilidades

Magoei-me na estrada dos pensamentos
Tropecei nos silêncios repetidos
Fico no chão com medo de tentar

O melhor é levantar
Uma nódoa negra, uma ferida
A pele vermelha nos joelhos

Talvez seja melhor experimentar outro caminho
O problema é que tenho um fascínio por joelhos feridos


quarta-feira, 16 de maio de 2018



É indecente como o tempo passa tão depressa. Os meses e as estações correm numa maratona louca. Primavera, outono, inverno e verão. Verde, amarelo, vermelho, branco. Céu azul, cinzento giz, antracite, escuridão. Manhãs claras, relógio que não pára. Vivi durante muito tempo o correr dos dias como uma queda dolorosa, como o luto de uma vida passada do lado de fora.
Mas por trás desta morte aparente vejo os mecanismos complexos que alimentam o bailado das nossas horas.
E hoje, o sol quente aqueceu-me a alma e o corpo.

segunda-feira, 14 de maio de 2018


O tempo que se esperava. A onda branca da manhã, os momentos suspensos, o nariz que olha para o cume das árvores. Pés descalços, o corpo que escorrega no algodão ligeiro, abandonado nas horas longas que deslizam até à noite escura. Sorrimos na suavidade do crepúsculo. Abrimos as janelas adormecidas depois da chuva e bebemos a luz e os segundos que passam.
Ciclo sem fim. Ampulheta virada. Imensidão.

quinta-feira, 3 de maio de 2018



Chove na noite e as luzes projetam as sombras da angústia nas ruas molhadas. As gotas batem na luz e na varanda do meu terceiro andar. O silêncio fica preso na garganta. A cama está gelada e a sombra da janela desenha uma cruz imensa no chão. Nada faz sentido.